A luta fratricida de grupos do PT pela Diretoria de Investimentos da PETROS

Os conselheiros eleitos, encastelados na Petros há mais de 20 anos, alardeiam que denunciaram à PREVIC em maio/2016 e ao MPF, em março de 2017, os 70 investimentos que ​deram​ prejuízos da ordem de R$2 bilhões.

Depois da casa arrombada os Conselheiros estavam 2 anos atrasados para denunciar os 70 investimentos, mas o que vinha ocorrendo na PETROS nos últimos 3 anos?

O contexto dos fatos que aconteceram indicam que esses tão alardeados 70 investimentos não passaram de uma tentativa da Diretoria da PETROS, formada por integrantes de 2 grupos sindicais do PT, em criar uma “cortina de fumaça” para desviar a atenção de casos de muito maior relevância envolvendo notáveis como Itausa, Sete Brasil, Belo Monte, Invepar, Torre de Pituba e outros que montavam prejuízos para a PETROS de mais de R$ 10 bilhões.

A luta fratricida entre 2 grupos sindicais do PT estava instalada na PETROS, disputando a Diretoria de Investimentos.

Era março de 2014. Acompanhe no tempo:

A Petros era controlada desde 2003 por dois grupos sindicais do PT. O mais forte era o de ex-sindicalistas bancários de São Paulo, do qual fazem parte Vaccari e Wagner Pinheiro, depois presidente dos Correios, que dirigiu a Petros entre 2003 e 2010. Além da presidência, esse grupo sempre controlou a Diretoria de Investimentos, de onde saíram os dois sucessores de Wagner Pinheiro, a saber Luis Carlos Fernandes Afonso e Carlos Fernando Costa. O outro grupo, da Federação Única dos Petroleiros (FUP), ficava com as diretorias de Seguridade e de Administração e Finanças e a presidência do Conselho Deliberativo.

Em março de 2014, na PETROS, o então diretor de Investimentos Carlos Fernando Costa assumiu a presidência. No lugar dele ficou o ex-diretor de Administração Newton Carneiro da Cunha, que é da FUP e, assim, havia acabado de conquistar a Diretoria de Investimentos da PETROS, o que gerou uma luta fratricida entre os grupos sindicais do PT que controlavam a PETROS. O clima pesou de vez quando o grupo de Carlos Fernando Costa perdera a área de investimentos para a FUP.

Ao final de 2014 a Lava-Jato levantou suspeitas sobre articulação política em fundos de pensão. Denúncias envolvendo o ‘Clube do Amém’ indicavam direcionamento de investimentos para negócios suspeitos. A pressão da PETROBRAS sobre a Diretoria da PETROS estava grande para apuração de irregularidades mas a cúpula do Petros tentava evitar a investigação de escritórios independentes contratados pela estatal sobre possíveis irregularidades na gestão do fundo. A então presidente da PETROBRAS comentou: “Fizemos todo um jogo de xadrez para cair dentro do Petros. O presidente (do fundo) gritava que isso não poderia acontecer, que essa investigação da Petrobras não poderia se estender até a Petros. Foi um ‘retetéu do rototó’”, contou a executiva.

A Diretoria da PETROS, para dar satisfação à PETROBRAS, e jogar uma cortina de fumaça informou que contratou auditoria, em novembro de 2014, para analisar 70 operações realizadas desde 2004. A PETROBRAS exigiu que o Conselho Deliberativo da PETROS aprovasse investigação de escritórios por ela contratados.

Na iminência de uma intervenção da PREVIC pela luta fratricida que estava sendo travada na PETROS, o então presidente Carlos Fernando Costa conseguiu que o Conselho Deliberativo convocasse uma reunião extraordinária para tratar de substituir toda a diretoria. Só ele ficaria no cargo. Newton Carneiro da Cunha Cunha seria trocado por um de seus assessores, Marcelo Perillo. Pouco antes da reunião do Conselho Deliberativo, a mudança da diretoria foi abortada, numa intervenção atribuída ao governo. Mas a essa altura a intervenção da PREVIC na PETROS já havia sido decidida.

Em 26/11/2014 a PREVIC, aparelhada pelo grupo do PT vinculado ao Carlos Gabas, intervém na PETROS e nomeia Walter de Carvalho Parente como interventor, no momento em que a Petros amargava uma de suas mais graves crises internas, e também como conseqüência das denúncias do doleiro Alberto Youssef.

Em 19 de dezembro de 2014, “o Conselho Deliberativo da Petros, a partir da solicitação da Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras, autorizou a realização de inspeção na Entidade, sendo os trabalhos conduzidos pelos escritórios Trench, Rossi e Watanabe Advogados e Gibson, Dunn & Crutcher LLP, contratados exclusivamente pela Petrobras, com o objetivo de apurar eventuais ações que contrariem leis e regulamentos, em prejuízo daquela contratante. Nesse contexto, a Petros vem acompanhando e se informando dessa inspeção com o objetivo de avaliar efeitos ou consequências para a Entidade, bem como tomar providências que sejam aplicáveis.”

A Petros passou a ter o cotidiano vigiado. Para cumprir a ordem de não apagar arquivos e e-mails, a capacidade de armazenamento das caixas de mensagens foi ampliada. Caixas são empilhadas nas salas com papéis que não podem ser descartados.

Em 02/03/2015 O Conselho Deliberativo, órgão máximo da estrutura organizacional da Petros, nomeou, em reunião extraordinária a nova Diretoria Executiva da Fundação. O novo presidente da entidade era o economista Henrique Jäger. Na mesma ocasião Licio da Costa Raimundo e Fernando Paes de Carvalho foram nomeados para a diretoria de Investimentos e de Seguridade, respectivamente. Danilo Ferreira da Silva assumiu o comando da diretoria Administrativa e Financeira.

Em julho e agosto de 2015, poucos meses depois de Aldemir Bendine assumir a presidência, o novo comitê de auditoria da PETROBRAS começou a esquadrinhar perdas acumuladas pelo fundo de pensão dos petroleiros e a discutir formas de impedir novos prejuízos. O presidente da Petros era, então, Henrique Jäger – um ex-conselheiro do Banco do Brasil que se tornara bastante próximo de Bendine em sua gestão como presidente do BB. Fora nomeado por Bendine no final de março para substituir Carlos Fernando Costa.

Nas primeiras reuniões com o comitê de auditoria, Jäger deixou claro que não estava ali para promover uma caça às bruxas. Jäger admitiu que, nas gestões anteriores, a Petros perdera 25% de tudo o que aplicara em empresas privadas. O número deixou os conselheiros, também novatos na gestão do fundo, de cabelo em pé. Isso porque, nos fundos de aposentadoria de empregados do setor privado, perdas com esse tipo de aplicação não passavam de 1%. Estavam na lista de investimentos malogrados da Petros desde a famigerada Sete Brasil, empresa formada por fundos e bancos para construir e alugar sondas para a Petrobras, até uma obscura metalúrgica do interior de Minas que conseguira dinheiro da Petros para testar novas tecnologias.

Jäger forneceu uma explicação bem mais cândida: os prejuízos se deviam ao que ele chamou de “curva de aprendizado” do fundo no setor privado. Jäger afirmou ainda que a recomendação de investir 30% de todo o patrimônio do fundo em empresas privadas havia partido de uma consultoria – que, consultada, negou tudo, e afirmou ter vendido apenas um software ao fundo.

As justificativas detonaram uma feroz discussão entre Jäger e Roberto Castelo Branco, conselheiro da Petrobras. Na época, a cúpula da estatal estava em pé de guerra.

Bendine se digladiava nos bastidores contra as sugestões de Murilo Ferreira, o presidente do conselho da PETROBRAS. O grupo de Ferreira acusava Bendine de falta de transparência e de querer jogar a sujeira da estatal para debaixo do tapete. Depois dos primeiros embates na Petros, Jäger se queixou a Bendine e Ferreira ameaçou pedir demissão. Os dirigentes botaram panos quentes na crise, mas ao longo de seu mandato, novos embates aconteceriam no fundo, principalmente quando se discutia a contratação de gestoras terceirizadas para administrar o dinheiro dos funcionários (Jäger era contra). Com o tempo, algumas dessas gestoras acabaram sendo contratadas. Jäger deixou a Petros em dezembro de 2015. Foi substituído por Walter Mendes, que fez carreira administrando fundos de pensão na iniciativa privada. Tudo indica que a era dos grandes rombos deve ficar para trás. Mas quem vai pagar a conta “curva de aprendizado” serão os aposentados. De 2017 até 2033, a Petros vai descontar 800 milhões de reais por ano dos benefícios.

Em 12/08/2016 o conselho de administração da Petrobras decidiu ampliar as mudanças no fundo de pensão Petros, indicando um de seus conselheiros, Walter Mendes, para a presidência, em substituição a Henrique Jager, que havia sido indicado na gestão Aldemir Bendine. a PETROBRAS informava que sua indicação é “parte do processo de reformulação e mudanças na governança da Petros que vem sendo implementado desde julho de 2015”.

Em 5 de setembro de 2016 a Polícia Federal, juntamente com o Ministério Público, entrava na sede da PETROS, no centro do Rio, para cumprir um mandato de busca e apreensão de documentos e computadores. Era a deflagração da Operação Greenfield.

Em novembro de 2018, dois ex-presidentes da PETROS e um ex-diretor são alvo de prisão preventiva, pela emblemática promiscuidade entre PETROBRAS e PETROS no investimento Torre de Pituba e na gestão do patrimônio dos investidores-participantes do PPSP.

Ainda há muito por vir à tona, a delação do Palocci e investigações em curso no TCU e MPF Lava Jato e Greenfield.

Estamos agora em agosto de 2019, a Diretoria da PETROS foi renovada extinguindo um ciclo de quase 20 anos de ingerência partidária sindical na indicação de Presidente e Diretores e, agora nas próximas eleições, teremos a oportunidade de afastar na representação dos investidores-participantes nos Conselhos Deliberativo e Fiscal da PETROS os eternos candidatos partidários-sindicais de FUP/FNP.

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